Sou um telespectador aficionado por televisão. E essa paixão vem desde a
infância. Logo, nada mais natural do que estudar, analisar e trocar informações
com quem entende do assunto. E as redes sociais, incluindo blogs e sites,
são um prato cheio para isso.
E como um telespectador, o que me importa na televisão? Sim, acertou
quem disse: o conteúdo.
O programa é bom?
A novela tem uma história ruim?
A série tem viradas interessantes?
Quais os pontos positivos da história?
Quais os negativos?
Os atores estão indo bem?
O apresentador é carismático?
Eu sou assim. Acho que todos os telespectadores, também, deveriam ser
assim. Mas não são...
De uns tempos para cá, comecei a notar que sites, blogs e portais de
notícias estavam fissurados em falar apenas de audiência, ibope, share, números,
números, números.
Who Cares?
É um bombardeio de números para
todos os lados. Eu sei, você talvez saiba, que, infelizmente as emissoras de
televisão e o mercado (eu disse: O MERCADO) se guiam pelos números aferidos através
de aparelhos do Ibope na cidade de São Paulo. São 930 aparelhos, sendo que cada
um desses equivale a 65 mil domicílios na grande São Paulo (???????). É uma
amostragem (aliás, utilizada desde que eu me entendo por gente). Na minha humilde opinião, um método extremamente defasado que prioriza o
"achamento", afinal, quem garante que as outras residências que, não
possuem o tal aparelhinho, e fazem parte dessa conta que inclui 65 mil
domicílios, estão assistindo a determinado programa de sucesso? Quem garante
que eles estão assistindo televisão? Você confia? Eu não. Como já disse, sou um
telespectador e a mim, pouco importa se programa está no traço ou se dá 30, 50
ou 100 pontos de audiência. O que me importa é achá-lo bom ou ruim.
Informação?
Nos últimos tempos, cresceram portais concebidos apenas para esse
propósito: informar os números aferidos dos 930 aparelhos. Informar para quem? Aos
publicitários? Ao mercado? Aos executivos das emissoras? Nãooooooo, meus
amigos, pasmem! É para o telespectador médio comum mesmo...
E nas redes sociais, pipocam perfis postando números aferidos minuto a
minuto... segundo a segundo... suspiro a suspiro...
Maria vai com as outras
Obviamente, tem quem se guie por isso. Um exemplo clássico tem ocorrido
no site do Canal Viva. Após o anúncio da exibição da novela "Pecado
Capital", remake da novela homônima de Janete Clair, surgiram protestos
dos "telespectadores" e um dos maiores argumentos era de que
"essa novela teve péssima audiência". Poucos comentários acerca da
história, elenco, trilhas... Para os "telespectadores", a novela não
pode ser exibida porque, em sua exibição nos anos de 1998/99, não teve uma boa
audiência. Poucos falam que a versão de Glória Perez não pode ser exibida
porque a acharam ruim ou confusa. Ou outros problemas. Questão de gosto,
claro.
Urubus?
Um outro caso curioso aconteceu na estreia da nova versão de "O
Rebu". Alguns perfis do twitter, previram e o esperado aconteceu, partindo
dos "jornalistas e críticos" de plantão: “Novela 'O Rebu' estreia com a
pior audiência do horário das onze”. O capítulo terminou e lá estava, estampado
a tal manchete. Deus! Nem Mãe Diná acertaria isso. Segundo um dos “jornalistas” de
plantão, era "obrigação jornalística" informar aqueles números que
estavam em queda (oi???). Esse “jornalista”, por sinal, vez ou outra, faz
questão de listar todos os números de novelas anteriores e comparar, mesmo
sabendo que a tal amostragem muda anualmente.
Uma “jornalista” acostumada a encher a sua coluna com muitos números
fez o mesmo no dia seguinte. O outro “jornalista”, mal humorado e com mania de
pato, não tem outra pauta a não ser falar de números. E há outro que saiu de um
portal de uma grande emissora e faz questão de mencionar e frisar sempre... os
números e sua queda. E tem a jornalista de um bom site, também, muito preocupada em postar
os números diários de SP e RJ. É, meu caro, o resto do Brasil não existe. “Ah,
pro mercado, apenas essas cidades importa”...
A pergunta: isso é jornalista mesmo?
Desesperar jamais!
E os blogs de curiosos e fãs de televisão? No cyber space eles se amontoam e se esvaiam por números. Quanto mais
sangue, quer dizer, números, melhor. Um desses, por exemplo, é o desespero em
pessoa ao perceber que determinado programa está com uma audiência baixa. Certa
vez, perguntei se ele era executivo de alguma emissora pra tanto desespero.
Sai novela, entra novela. Sai programa, entra programa... A pauta nunca
muda. “Novela X estreia com pior ibope da história do horário” e blá blá blá...
E assim, será. Adeus críticas acerca do produto, embora poucas ainda existem e
resistem.
Por quê? Pra quê? Por quem? Existe um público interessado em se nortear
por essas informações? Ou será que as próprias emissoras esperam realmente que
o telespectador se guie pelos números? Porque eu e você, telespectadores comuns,
não temos que nos preocupar com números e blá blá blá... O que nos interessa é
o conteúdo. É questionar a infelicidade do mocinho. Comentar do tema social
abordado na reportagem. Falar da história, questionar, se emocionar... Números,
ibope, audiência, share, ah, pô...
Who cares?